domingo, 20 de janeiro de 2013

A Marca do Lobo

Este é outro conto que deixei apenas na internet. Foi publicado, primeiramente, no site da Ed. Estronho em 2009 e agora, revisado, está em meu blog.
          Eu sempre amei lobos, histórias com muito sangue ( rsrsrs) e a noite! Espero que gostem!
Beijos!


A Marca do Lobo

Era noite de inverno na Serra do Rio Grande do Sul, no Brasil, os irmãos Manuel e Eduardo seguiam de jipe, um Lada Niva propriedade de Eduardo. A bela paisagem, cujo horiozonte exibia o céu escuro e anunciava uma tempestade, logo ganhava a trilha sonora de Moonspell, banda preferida dos garotos.
Manuel era fotógrafo de espécies ameaçadas de extinção e tinha como objetivo aventurar-se pelos terrenos gaúchos à procura do Lobo Guará - animal típico do Sul do país. Porém, Eduardo apenas queria sossego, sem longas correrias. Entretanto, não desgrudava do seu livro de ficção científica e de tantos outros gibis que levou para a viagem.
A noite mal  chegou no local onde estavam e os pingos de chuva deixaram os dois no meio do caminho. De repente, o que era uma brisa, virou uma ventania e o céu, em lágrimas, caiu sobre a terra. A tempestade tomou força e tinha seu momento de glória sobre o ambiente.
Acho que temos que encontrar um abrigo qualquer. - Indagou Manuel, ao olhar para a janela toda suja de barro por causa das poças que o veículo passava.
- Não há civilização por perto. Mas sei de uma caverna atrás daquela floresta. - Responde Eduardo, já fazendo a curva para oeste em direção ao abrigo.
Será que não há mesmo ninguém, nem um animal por aqui? Indaga Manuel.
Creio que a essa hora, caso haja algum, eles estão aconchegados e é o que irei fazer assim que encontrar a caverna! O pior, é que essa floresta mais parece um labirinto!
Só espero encontrar o  Lobo Guará por qualquer muvuca por aqui.
A floresta tinha uma pequena estrada no meio, na qual os dois seguiam, mas era impossível passar de carro, logo, tiveram que seguir a pé. Eduardo desceu do carro e pegou a capa de chuva e as lanternas no porta-malas.
O vento bateu forte e com a chuva, não ficou nada agradável. O sopro da ventania por trás das árvores levantava as folhas que grudavam em qualquer lugar. O vento veio mais forte e de longe, o rapaz teve a impressão de ter ouvido um uivo. Um uivo tão alto que sua alma sentiu-se como uma taça de cristal perto de notas musicais agudas. Então, ele olhou para os lados como se procurasse o que jamais queria enocntrar. O segundo uivo soou pela mata, dessa vez mais perto e com maior intensidade. Seu sangue correu tão depressa que seus batimentos aceleraram. Um arrepio correu pela sua espinha, sentiu como se  um chamado para sua pessoa estava sendo feito por algo aquém da realidade. Como se alguém tivesse o observando. Seu medo estava dominado pelo estresse, o inconviente evento da natureza para aqueles viajantes, a chuva, ajudava a deixar seu olhar turvo.
Novamente, Eduardo observou a sua volta e de longe avistou um espectro, como se não bastasse o frio sobrenatural que sentia, os olhos da criatura o dominaram tão intensamente que ele não conseguia desviar o olhar. O Ser estranho se confundia com a superfície dos arbustos, chegava mais perto como um flash de luz e era dono de uma aura inexplicável, como se pudesse dominar a natureza em volta, mas não a sua. Poderia ser uma ilusão e de todo o medo que sentiu, de todas as energias que rondavam, poderia apenas estar preso em uma fantasia escura da própria mente.
Manuel, no carro, nada percebia, pois o som, no último volume, o distraia.
Agora, mais perto, o  ser estranho chegou agachado, mas logo se ergueu dentre a mata e em frente a Eduardo, que percebeu o que era uma misteriosa sombra, mostrar a forma de seu criador. Em segundos, o suposto animal se tornou mais alto e robusto que qualquer outro ser humano, embora os pelos cobrissem seu corpo, era visível o emaranhado de veias pulsando sem parar, as patas tinham garras capazes de perfurar a pele até o coração da vítima em uma unhada só. As tais garras, Eduardo pôde sentir em seu pescoço, junto com a respiração ofegante do animal que, livre da sombra da noite, mostrou uma face apavorante: os olhos amarelos olharam fixos ao garoto, que só queria um belo final de semana, a criatura possuía dentes tão afiados quando as suas garras e babava, rosnava como o pior dos cães! Pela sua boca o ar surgia quente, embora a baba que escorria era tão fria quanto a neve, visivelmente escura, pronta para se misturar com o sangue da caça.
Eduardo não conseguiu pronunciar uma palavra se quer, seus músculos estavam paralisados, dominados feito um inseto na teia. Queria gritar, mas a vontade não correspondia aos fatos. Diretamente, sentiu o abominável ser da noite desenhar círculos em seu pescoço com suas unhas, ameaçando perfurar, sem perder o foco principal da jugular. O lobisomem olhou cínico, mas também, um tanto quanto sutil demais para um animal pronto para devorar sua presa. Ele sentiu, mais uma vez, o cheiro da carne de Eduardo e seus olhos amarelos focaram na Lua Cheia, cujo aparecia atrás das nuvens. Soltou um uivo tão alto, como se quisesse alcançar o céu com sua voz e concretizou o ritual.
Manuel estava quase dormindo, acordou quando percebeu a música rebobinar sem parar, justo no momento que ouviu a marca do lobo. Assustou-se de tal forma com o uivo que derrubou o café sobre as pernas. Os óculos caíram.
Caralho!
Como sentiu a falta do irmão, gritou:
Eduardo!? Eduardo!? Você está aí? Anda logo! Nada se ouviu na noite, até a chuva havia parado.
Desistiu de ligar o rádio, olhou pelo retrovisor e avistou a lanterna caída e acessa. Saiu aflito do veículo.
O lobisomem bufou e saiu mais rápido do que chegou, escorregando sua garra no braço de Eduardo, deixando três dedos marcados em feridas.
 - Eu o chamei! Onde estava?  - Perguntou Manuel
Acabei me distraindo com um animal, não sei... - Responde Eduardo, ainda incrédulo e todo borrado pelo ocorrido.
Não me diga que era o o Lobo- Guará e não me avisou para tirar uma foto dele!
Eu quem diga, queria era atirar, tirar, sei lá... Na verdade não sei o que era, surgiu e foi muito rápido!
E você não o seguiu?
A vontade do rapaz era de responder ironicamente, pensando: Se ele soubesse do tamanho do Lobo! Animal do inferno!  Mas, apenas olhou para o irmão, balançando os braços, demostrando a situação.
- Bom, deixa pra lá, Edu! A caverna é aqui perto?
- Sim, sim! Pegue o que tem que pegar e vamos.
O rapaz cortou um pedaço da camisa e cobriu o ferimento do braço, não queria que o irmão visse que estava machucado. Os dois seguiram alguns metros até a tal caverna.
Ferido, sempre olhando para os lados, não sentia-se mais seguro naquele lugar. Até que:
Chegamos!
Finalmente! Até que é aconchegante e interessante. Merece uma fotografia. - Manuel ajustou o ângulo e registrou a entrada da caverna.  - E Essa vai pra capa da coleção!  - Completou.
Eduardo estava com perguntas sem respostas, querendo acreditar que o que passou era uma alucinação, afinal, leu muitas histórias de tal coisa em sua vida. Mas as marcas no braço só reforçavam que a dor, o medo, as imagens da criatura sedenta, eram reais. Havia ocorrido, mesmo sem explicação.
A chuva voltou e o cansaço chegou em ambos. Ajeitaram os sacos de dormir no canto da caverna, que apesar de pequena, servia para uma noite. Por fim:
Boa noite!
Boa noite!
Na madrugada, Eduardo sentiu muito frio, o medo normalmente deixava-o com frio, mas era uma sensação térmica acompanhada de fome. Revirou-se, mas não conseguiu pregar o olho, levantou-se e foi para fora  pegar um ar. A Lua Cheia era destaque no céu.
Sentiu um aroma de sangue muito forte. Olhou para os lados e três lobos deliciavam-se com pedaços de carne de um homem todo estripado. Então, um dos lobos, provavelmente o alpha, o encarou e rosnou. O garoto ousou chegar mais perto, aquele homem ensanguentado parecia familiar. Os caninos afastaram-se contra a vontade e Eduardo pode ver que era ele no chão! Estendido como um animal qualquer, totalmente dilacerado.
Um grito o fez acordar! Era só um sonho. Mas acabou com sua mente.
Eduardo se levantou, estava suando frio, a dor do ferimento ficou mais aguda, a ferida era horrenda demais para ser tratada apenas com um pano. Percebeu o cheiro de sangue podre tão forte que vinha do seu braço. Tinha uma cerveja e serviria. Álcool de qualquer forma é bom contra infecções. Derramou todo o líquido na ferida. Mesmo com um pano amordaçado, não foi o suficiente para diminuir o ardido, gritou sentido sua garganta rasgar.
O ferimento não melhorou, começou a pulsar, seu coração disparou. Suou excessivamente, os olhos ardiam, a visão ficou turva, nada mais tinha forma ou cor na sua frente, era como se todos os órgãos parassem e reagissem brutalmente dentro de si. A cabeça latejava, a audição ficou confusa, muitos zumbidos vindos de qualquer lugar, os músculos cresciam e diminuíam sem sentido, até finalmente ficarem robustos. As roupas não aguentaram a nova forma e perderam-se em trapos. Finalmente sentiu um gosto de sangue e carniça na sua boca. Era o mesmo, mas sem saber o que era.
Manuel teve a impressão de ter ouvido algo. Acordou, olhou para o relógio, já passava da meia-noite. Percebeu que Eduardo não estava por perto. Viu os trapos espalhados, virou-se apavorado; pronto para gritar e sair correndo. Foi quando deu de cara com o lobisomem, antes seu irmão, agora uma criatura selvagem, faminta por sua carne.
O lobisomem segurou a câmera, olhou para Manuel e disse:
Você não queria conhecer um lobo?
           A câmera caiu com o sangue de Manuel.  E a noite só carregava a marca do lobo.

Um comentário:

Elisandra Eccher de Andrade disse...

Suzy,

Sinistro esse conto. Me deixou meio ansiosa, digamos que entrei na maré de acontecimentos e queria ler rápido para chegar ao final, não sei se me compreende. Imaginemos tudo isso acontecendo na realidade e você é um telespectador e deseja saber o final, pois não aguenta esperar para saber como vai terminar. Foi assim que me senti, com medo do pior que acabou acontecendo. Pelo menos na minha imaginação. Beijokas Elis!!!
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