terça-feira, 6 de maio de 2014

Uma Noite Alucinante no jornal A Razão

Olá, meus marujos! 

Segue a reprodução da matéria do jornal A Razão de Santa Maria sobre o evento Uma Noite Alucinante.

Obrigada ao jornal pela excelente cobertura do evento.



Contos do além e criatividade noturna

Escritores promovem bate-papo sobre a obra de Mary Shelley e produzem contos na madrugada
O bate-papo na Livraria Athena reuniu muitos leitores que se divertiram (e se assustaram) com os relatos dos escritores. Obras de ícones do horror, como Mary Shelley e Stephen King, foram discutidos durante a conversa (Foto Deivid Dutra/ A Razão)
Giulianno Olivar
A Feira do Livro de Santa Maria teve momentos de puro medo no último final de semana. Vampiros, lobisomens, monstros e fantasmas tomaram conta do evento, em atração promovida pelo Circuito Elétrico. Acertadamente batizada de “Uma Noite Alucinante”, a atividade reuniu, no sábado à tarde, na Livraria Athena, escritores gaúchos de literatura fantástica para uma conversa sobre uma das mais célebres histórias já escritas: Frankenstein, da britânica Mary Shelley. Mais tarde, no mesmo dia, os nove artistas foram “encarcerados” no local, onde passaram a madrugada de domingo produzindo contos que serão lançados em uma antologia na edição de 2015 da Feira do Livro.
Organizado pelo escritor André Cordenonsi, o evento foi inspirado em um semelhante, o “Tu, Frankenstein 2”, realizado durante a Feira do Livro de Porto Alegre de 2013. O organizador do encontro na capital, Duda Falcão, esteve em Santa Maria para passar a noite escrevendo e discutir literatura fantástica junto de seus colegas. “A gente fica muito contente em ver o mesmo evento reproduzido em Santa Maria. É uma noite extremamente importante para a literatura de horror e ficção científica”, afirma Duda, que é fundador da Argonautas Editora e autor de diversos contos do gênero e frequente colaborador da antologia Sagas.
Autores participantes do “Uma Noite Alucinante” foram transformados em personagens do desenho animado Scooby-Doo nos materiais de divulgação
Autores participantes do “Uma Noite Alucinante” foram transformados em personagens do desenho animado Scooby-Doo nos materiais de divulgação
Mas tanto o “Uma Noite Alucinante” quanto o “Tu, Frankenstein 2” têm uma origem comum. Ambos remetem ao famoso episódio em que o escritor inglês Lord Byron reuniu outros colegas de profissão em sua casa para passarem a noite redigindo histórias de terror. Entre os convidados, uma jovem de 19 anos chamada Mary Shelley, que, naquela histórica madrugada, escreveu o esboço do que se tornaria sua obra mais conhecida.
Além de Frankenstein, os autores debateram sobre outros temas referentes ao universo das histórias de horror e ficção científica. Um dos escritores contemporâneos mais populares do gênero, o norte-americano Stephen King foi citado pela maioria dos presentes como uma referência. A escritora caxiense Suzy Hekamiah tem em uma adaptação cinematográfica de um livro de King suas primeiras lembranças do gosto pelo terror. “É o gênero que eu mais gosto, assistia a filmes trash quando criança. Depois que vi O Cemitério Maldito fiquei apaixonada de vez. A primeira noção que eu tive de arte foi assistindo a um filme de terror”, comenta.
Diferente do cinema, é difícil para a literatura trabalhar com a ideia de provocar sustos. Para compensar essa “deficiência”, o suspense é bastante utilizado para instigar o leitor. “Temos que escrever sobre o medo. A maneira como vai se utilizar a atmosfera, o clima, influencia em uma boa história de terror”, explica Duda, acrescentando que escrever em primeira pessoa pode possibilitar um aumento na tensão de quem acompanha a trama. “Terror em primeira pessoa assusta mais. Funciona melhor, pois há um contato maior com o personagem, a gente se coloca ali no lugar dele”, acredita o escritor.
Uma noite produtivamente alucinante – Às 22h do sábado, todos foram trancados na livraria, de onde saíram somente às 6h de ontem, já com os contos escritos. No decorrer da madrugada, porém, muito trabalho para as nove imaginativas mentes que toparam o desafio de criar uma história em um espaço de tempo relativamente curto. Satisfeito com o resultado do experimento, o organizador André Cordenonsi considera a madrugada o momento ideal para produzir. “A questão da passagem da noite dá um aspecto interessante. É uma hora em que não há perturbação, e acaba rendendo mais do que trabalhar em casa, em um dia normal, que sempre tem algo acontecendo. Passamos a madrugada na penumbra, à meia luz, para criar um clima”, conta o organizador, que se inspirou no clássico desenho animado Scooby-Doo para compor o material de divulgação da atividade.
De acordo com Cordenonsi, o maior diferencial do “Uma Noite Alucinante” foi a interação que os escritores tiveram entre si durante o processo de concepção dos contos. “O processo de escrita dos autores é solitário. Ali a gente teve como discutir o processo. A cada duas horas, a gente parava para ver como estavam indo, todos davam opinião, sugeriam, comentavam. Isso estimulou bastante as conversas sobre o que estava sendo escrito”, ressalta o autor, que desenvolveu uma história de terror e suspense na madrugada.
Participaram da “oficina literária noturna”, também, os escritores Fábio Brust, Leo Carrion, Christopher Kastensmidt, Estevan Lutz e Enéias Tavares, além da professora do curso de História do Centro Universitário Franciscano, Nikelen Witter, que considerou a experiência surpreendente. “Meu conto saiu diferente do que eu costumo escrever. Não sei se foi a influência noturna, ficou mais voltado para o horror”, diz. Segundo ela, o ambiente criado durante a “noite alucinante” propiciou a produção, mesmo que alguns escritores tenham passado trabalho. “Alguns sentiram dificuldade de produzir devido ao cansaço, mesmo com bastante café e comida. Eu estava bem dormida, produzi bem. Essa imersão, ter poucas distrações, circular entre os livros… Tudo favorece à criação”, frisa Nikelen, destacando a criatividade dos escritores presentes. “As ideias eram muito diversas, muito ricas. Saíram contos sobre monstros, canibalismo, outros de interpretação dúbia a respeito do universo fantástico… Todos bem criativos, nada que estivesse nem próximo um do outro”, anima-se a autora.


Nenhum comentário: